Concepções da avaliação. Equidade e/ou Performatividade


Recordando a aula do dia 09.11.2018

A avaliação escolar se traduz numa prática organizada e sistematizada que é sinalizada por objetivos implícitos ou explícitos e que refletem valores e normas (Chueiri, 2008). A autora apresenta as seguintes concepções pedagógicas para a avaliação:
a)       Examinar para Avaliar:  práticas avaliativas que correspondem a aplicação de exames e provas.
b)       Medir para Avaliar:  Desenvolvimento de testes padronizados que tinham como finalidade medir habilidades e aptidões. Medir comportamentos.
c)       Avaliar para Classificar ou para Regular: apresenta como características a classificação do desempenho dos alunos e a certificação ao final do processo.
d)       Avaliar para Qualificar: surgimento de formas alternativas de avaliação, tendo como foco a ética, epistemologia e outras teorias.

As Instituições de ensino, cursos e o desempenho dos alunos, são fiscalizados e avaliados periodicamente. Na maioria dos países, o Estado realiza um censo amostral para verificar a situação de seus sistemas de ensino, tendo como principal instrumento avaliativo, a aplicação de exames aos alunos. Tomando como exemplo do Brasil, as avaliações de rendimento escolar são coordenadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, autarquia vinculada ao Ministério da Educação-MEC. A título de curiosidade e fonte de pesquisa, tem-se os processos avaliativos realizados no Brasil pelo INEP:

·         O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB): Permite traçar metas de qualidade educacional para os sistemas. Constituído pelas:
a)                  Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – para as unidades da federação e para o país, e;
b)                   Prova Brasil – para os municípios.
·         Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB): composto por dois processos:
a)                  Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb); realizada por amostragem das Redes de Ensino, em cada unidade da Federação e tem foco nas gestões dos sistemas educacionais;
b)                  Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc): mais extensa e detalhada e tem foco em cada unidade escolar. Aplicada anualmente, tem caráter censitário e avalia a qualidade, equidade e eficiência do ciclo de alfabetização das redes públicas.
·         Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM): Objetiva avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. O Enem é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de seleção para o ingresso no ensino superior, seja complementando ou substituindo o vestibular.
  Em se tratando das avaliações realizadas nos estabelecimentos de ensino superior, tem-se a Avaliação Institucional que é composta por duas modalidades:
·                    Autoavaliação – Coordenada pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) de cada instituição e orientada pelas diretrizes e pelo roteiro da autoavaliação institucional da CONAES.
·                    Avaliação externa – Realizada por comissões designadas pelo INEP, a avaliação externa tem como referência os padrões de qualidade para a educação superior expressos nos instrumentos de avaliação e os relatórios das autoavaliações.
·                    PISA Programme for International Student Assessment : Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – é uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada de forma amostral a estudantes matriculados a partir do 7º ano do ensino fundamental na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O objetivo do Pisa é produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação nos países participantes, de modo a subsidiar políticas de melhoria do ensino básico. A avaliação procura verificar até que ponto as escolas de cada país participante estão preparando seus jovens para exercer o papel de cidadãos na sociedade contemporânea.

Para se aprofundar nessa questão, o portal eletrônico do INEP/MEC fornece mais informações: http://portal.inep.gov.br/web/guest/inicio
É interessante destacar o papel da Avaliação diante do contexto da equidade e da performatividade.  Para Libâneo 2008, educação de qualidade se dá quando todos têm acesso aos conhecimentos e desenvolvem suas capacidades cognitivas, operativas e sociais. Com vistas ao mundo do trabalho, à construção da cidadania e à promoção de uma sociedade mais justa. O autor acrescenta que a escola atual necessita ir ao encontro das novas realidades; andar paralelamente à economia, política e cultura; locomover contra a exclusão social, propondo um currículo centrado na formação geral e continuada dos sujeitos, pensantes e críticos, a fim de constituir a cidadania crítico-participativa e ética.
Para se pensar numa sociedade equitativa, é necessário analisar os efeitos da globalização sobre a educação e o currículo. Grandes desafios precisam ser ultrapassados. Questões éticas, de valores e de responsabilidade sobre a qualidade do ensino preocupam os profissionais da educação. Nesse perspectiva, as escolas, em particular os alunos, precisam fornecer dados sobre o rendimento e desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem a Instituições Avaliativas, interna  e externa (Soares et al., 2008).
Segundo esses mesmos autores, tendo o capitalismo como protagonista dos efeitos socioeconômicos ao redor do mundo, a autonomia e soberania dos Estados estão sendo ameaçadas. Seu papel de regular o mercado e as necessidades internas, está sendo limitado. Como consequência, as ações de promoção de bem-estar da sociedade são afetadas. A educação não fica à margem dessas transformações, observa-se dificuldades dos países em garantir os direitos econômicos, sociais e culturais. Com enxugamento dos gastos públicos, o setor privado educacional se expandiu no mundo (Soares et al., 2008).
A educação é um setor capaz de colocar um país no nível de desenvolvimento frente às exigências do mundo globalizado. Educação e mercado se aproximam de forma singular, tanto que a educação passa a ser mercadoria de qualidade a ser medida e verificada Comar (2014, p. 03306).

Seguindo o entendimento de Ball (2005), a performatividade pode ser compreendida como sendo um ato regulador que: julga, compara, demonstra meios de controle, conflitos e mudanças. Para o autor, os desempenhos dos sujeitos estão sendo referenciados para indicar: produtividade, resultado e qualidade. Desta forma a perfomatividade é atingida quando se constrói indicadores ou outros meios de caráter promocionais que buscam: estimular, julgar e realizar comparações entre profissionais.
Levando a performatividade para o ambiente escolar, Comar (2014) salienta que existem dois vieses para os modelos avaliativos:  são orientados a qualidade total, comparando índices e mensurações e por outro lado, as instituições de ensino são encrustadas pela lógica performativa de regulação e controle, ficando distanciadas do verdadeiro sentido da avaliação. Ball (2005) explana que a busca pela “perfeição”, para atender aos requisitos de desempenho, poderá levar a práticas pedagógicas inúteis e os resultados poderão ser desastrosos para as instituições e principalmente para os professores.

 A constituição da avaliação como domínio da Ciência da Educação com a sua progressiva formalização, tecnicização e profissionalização, tem sido acompanhada, ao mesmo tempo, por “metanarrativas de legitimação”, ... procuram justificar e sustentar a sua relevância social, política e, até, pessoal. Sem qualquer perspectiva diacrónica ou historicista ( Lyotard, 1976; Rodrigues, 1992 como citado em Machado, 2005, p. 3395).

As metanarrativas que legitimam a avaliação e que apresentam seus princípios e ideais em constantes situações contraditórias e conflitantes, são classificadas em metanarrativa do controlo e da emancipação. Segundo Machado (2005), a metanarrativa de controle é caracterizada por um contexto de decisão centralizado que privilegia a eficiência, ressalta a performance e performatividade e conformidade normativa. “ Deste ponto de vista, avaliação surge, pela sua “exterioridade” e “objectividade”, ao serviço de políticas curriculares de marcadas pelo “modelo das racionalidades técnicas” (Pacheco, 2002 como citado em Machado, 2005, p. 3395).
A metanarrativa da emancipação “trata de uma construção discursiva que, no contexto de uma concepção sócio-construtivista da aprendizagem e de uma perspectiva reconceptualista, legitima a avaliação sobretudo pela sua função crítica, personalizadora e emancipatória... Enfatiza a função formativa e reguladora por ser criteriosa, de corresponsabilidade as decisões e métodos e ter técnicas mais democráticas ( Alves e Machado, 2003 como citado em Machado, 2005, p. 3396).  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALL, S.J.. Profissionalismo, gerencialismo e performatividade. Cad. Pesqui. [online]. 2005, vol.35, n.126, pp.539-564. ISSN 0100-1574.  Recuperado de http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742005000300002.

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Recuperado de   http://portal.inep.gov.br/web/guest/inicio

CHUEIRI, M.S.F. Concepções sobre a Avaliação Escolar. Estudos em Avaliação Educacional.Revista Quadrimestral,Fundação Carlos Chagas, v.19, n.39, jan/abr, 2008. Recuperado de https://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1418/1418.pdf


Libâneo, J.C.. Organização e Gestão da escola: teoria e prática. 5ª ed. revista e ampliada_Goiânia: MF Livros, 2008. 319p

Machado, E. A. (2005).  Quantos créditos dá esta acção? - uma modelização das práticas de avaliação em formação contínua de professores. In Actas do VIII Congresso Galaico-Português de Psicopedagogia. Centro de Investigação em Educação - Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho, Braga (pp. 3395-3403). Recuperado de http://www.educacion.udc.es/grupos/gipdae/documentos/congreso/VIIIcongreso/pdfs/404.pdf

SOARES, L. H. et al. Globalização e desafios contemporâneos para educação – análise do pisa e os rumos da educação no Brasil. Espaço do Currículo, v. 1,n. 1, p. 189-222. Recuperado de http://periodicos.ufpb.br/index.php/rec/article/viewFile/3646/2982

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